quinta-feira, 16 de abril de 2009

(Cecília Meireles)
"Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas."
CECÍLIA MEIRELES NÃO É SOMENTE A POETISA DOS VERSOS DE AMOR; É TAMBÉM INTERPRETE DURA DA NATUREZA HUMANA, DE SUAS ARMADILHAS, DE SEU ESTRANHO FASCÍNIO PELA DOR. DO FRACASSO COMO ESCOLHA E DO ABANDONO COMO SUTIL PRAZER. TORTUOSOS CAMINHOS DISFARÇADOS SOB O COLORIDO CAPRICHADO DO LÁPIS-DE-COR DE NOSSA PRIMEIRA INFÂNCIA E REAFIRMADO COM O ÓLEO-SOBRE-TELA DO ADULTO CRONOLÓGICO. NUM REPETIR SEM FIM...ATÉ QUE SE DESPENQUE NO CONSULTORIO DE UM BOM TERAPEUTA.

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